sábado, 21 de abril de 2018

A independência de Angola

Coletivo Feminista Classista Ana Montenegro – Alagoas
Em 2 de março de 1968, ao retornar de uma missão na selva, quatro guerrilheiras integrantes da Organização da Mulher Angolana (OMA): Deolinda Rodrigues, Engrácia dos Santos, Irene Cohen, Lucrécia Paim e Teresa Afonso, foram capturadas, torturadas e esquartejadas vivas. Sete anos antes da independência do país, o 2 de Março foi consagrado Dia da Mulher Angolana. Relembramos algumas das companheiras que dedicaram suas vidas à transformação histórica e social do país.

terça-feira, 17 de abril de 2018

Angela Davis e a abolição que não houve

Angela Davis e a abolição que não houve
Angela Davis, a escritora pop foi censurada no Brasil


por Pedro Alexandre Sanches — publicado 08/04/20180h30, Carta Capital
A filósofa norte-americana ficou 47 anos inédita no Brasil por afirmar que a escravidão nunca acabou de fato
Muito antes que os Estados Unidos da América começassem a sonhar em construir um muro que os separasse da América Latina, um muro de concreto armado nos separou da estadunidense Angela Davis. Embora propenso a consumir acriticamente tudo que a indústria cultural de lá produz, o Brasil demorou 47 anos para traduzir e publicar qualquer um dos livros da filósofa, professora de estudos feministas, militante antirracista e ativista pelos direitos civis, hoje com 74 anos de idade e em plena produtividade intelectual.
O dique rompeu-se em 2016, quando a editora Boitempo transpôs para o português Mulheres, Raça e Classe, editado na terra natal em 1981. Em 2017, veio Mulheres, Cultura e Política (1990), um compilado do pensamento oitentista de Angela. O novo A Liberdade É uma Luta Constante, de 2015, chega agora pela mesma Boitempo e marca o momento mais importante da descoberta brasileira de uma mulher que foi militante do partido Panteras Negras (fundado em 1966), presa política estadunidense (entre 1971 e 1972) e duas vezes candidata a vice-presidenta da República pelo Partido Comunista deles (em 1980 e 1984).
A tradução do pensamento mais contemporâneo de Angela Davis para o Brasil de 2018 é crucial por dois motivos principais, entrelaçados entre si. Em primeiro lugar, flagra uma versão de Estados Unidos mais semelhante que divergente do Brasil que conhecemos desde sempre – Angela sustenta, por exemplo, que a escravidão jamais foi abolida no “país da liberdade” e que as prisões são o sucedâneo “moderno” do modelo de escravização que os Estados Unidos supostamente aboliram nos anos 1860 (e o Brasil, em 1888).
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Sob essa perspectiva, o livro de 2015 explica (sem citá-la explicitamente) a vida e a morte de Marielle Franco, que foi tão pouco percebida pelo Brasil quanto Angela Davis, pelo menos até a data da execução da vereadora e ativista carioca, em 14 de março último. Em comum, as duas guardam, entre outras muitas características, o fato de serem mulheres e negras.
Em segundo lugar, a atualidade desconcertante de A Liberdade É uma Luta Constante deixa uma interrogação urgente no ar: por que os Estados Unidos, tão céleres em traduzir o processo político brasileiro a brasileiros em linguajar Netflix, esconderam por tantas décadas a existência de Angela Davis? Por que classificaram aquela sua cidadã como “terrorista”, confiscaram seus títulos acadêmicos e incluíram-na entre os dez estadunidenses mais procurados durante o governo Richard Nixon?
Ou, no sentido reverso, por que a indústria cultural brasileira, sempre tão ávida pela trash culture estadunidense, manteve no final da fila a filósofa negra mais pop da geração hippie(a ponto de motivar estampas de camiseta e movimentos do tipo “Free Angela Davis”)? Os motivos estão todos inscritos na obra viva da pensadora.
“A favela é a nova senzala”, cantou, em 1986, o compositor popular carioca que décadas depois se filiaria às hostes reacionárias. Era falácia. A favela, mesmo em tempos de “intervenção militar constitucional”, guarda mais as sementes de um novo quilombo.
A nova senzala, segundo o pensamento de Angela Davis, é o que ela chama de “complexo industrial-prisional”, que escraviza preferencialmente cidadãos de origem africana, indígena e de outras minorias étnicas, além de imigrantes de todo o planeta. Há mais de 2,5 milhões de encarcerados nos Estados Unidos e mais de 8 milhões no mundo todo, denuncia a autora, que faz daquilo que denomina “abolicionismo prisional” a bandeira central de A Liberdade É uma Luta Constante.
“Se quisermos imaginar a possibilidade de uma sociedade sem racismo, tem de ser uma sociedade sem prisões. Sem o tipo de policiamento que vivenciamos hoje”, afirma, apontando que o aprisionamento de corpos negros é uma estratégia adaptada de segregação racial.
“Ainda vivemos sob o famoso mito de que (AbrahamLincoln libertou a população escravizada, mito que continua a ser perpetuado pela cultura popular, até mesmo pelo filme Lincoln. Ele não libertou a população escravizada”, escreve, como talvez escrevesse sobre a princesa Isabel, se fosse brasileira. “Não sabemos falar sobre o genocídio infligido aos povos indígenas.
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Protestos a favor da filósofa (Foto: Wikimedia)
Não sabemos falar sobre escravidão”, acrescenta, em referência não ao Brasil (ou a qualquer país formado pelo que chama, com tristeza, de “populações excedentes, descartáveis”), mas da “pátria da liberdade”. “Não podemos entender por que (a pena de morte) continua a existir nos Estados Unidos da forma como existe sem uma análise sobre a escravidão”, sintetiza, em combate franco contra a privatização e a apropriação capitalista das questões de segurança, educação e saúde.
Se noutras obras Angela se preocupou com a discriminação e a violência preferencial da sociedade contra mulheres negras, hoje ela se abre a transversalidades que tentam explicar como cada partícula dos nossos problemas se conforma num todo.
A chamada “intersecionalidade” advogada por ela busca combater, em bloco, a “dinâmica de violência, supremacia branca, patriarcado, poder do Estado, mercados capitalistas e políticas imperiais” – não é à toa que o país em que nasceu (ao Sul) procure mantê-la apartada de seus semelhantes planeta afora. Por conta disso, grande parte da energia de A Liberdade É uma Luta Constante é dissipada no ativismo pelo abolicionismo prisional também na Palestina, “uma luta talvez tão improvável como parecia ser abolir a escravidão”.
Angela lembra que os Estados Unidos Racistas e Imperialistas da América (como nomeia o próprio país a certa altura) subsidiam 8 milhões de dólares diários a Israel para promover o aprisionamento de palestinos, e que a G45, a terceira maior corporação privada do mundo, administra prisões privatizadas, promove repressão a presos políticos em Israel e fornece segurança privada a estrelas do rock e do esporte.
Para ela, a discriminação contra muçulmanos, amplificada com a “guerra contra o terror”pós-11 de setembro de 2001, “talvez seja a forma mais virulenta de racismo atualmente”. É aberto o libelo de Angela contra o apartheid israelense (que compreende como equivalente ao apartheid sul-africano vigente oficialmente entre 1948 e 1994) e pelo movimento BDS (Boicote, Desinvestimento e Sanções) contra o governo israelense. Ao protestar contra “o monopólio da violência cobrado dos oprimidos”, Angela refere-se, num só golpe, às estratégias diárias pelas quais criminalizamos palestinos pelo apartheid israelense, homens-bomba pelas guerras no Oriente Médio, mulheres pelo estupro, homossexuais pelos crimes homofóbicos, Angela Davis pela luta antirracista, Marielle Franco pelo próprio assassinato.
“O espaço da cadeia ou da prisão não é apenas material e objetivo, mas também ideológico e psíquico. Internalizamos essa noção de um lugar onde colocar as pessoas más”, ensina, num fio lógico que, no limite, expõe as escaladas fascistas como o desejo de aprisionar corpos e mentes, inclusive os dos próprios fascistas.
É nessa linha que Angela decifra os EUA pós-abolição (ou o Brasil pós-conquistas sociais do início do século XXI). Para ela, os avanços civilizatórios ao final da Guerra Civil (1861-1865) foram combatidos com violência capaz de atrasar as lutas pela liberdade em um século. Quando puderam voltar, nos anos 1960, tiveram de se confinar a movimentos pelos direitos civis, para ela muito mais restritos que a luta pela liberdade humana com L maiúsculo.
Ao apregoar a interseção entre as lutas contra o racismo, a misoginia e a homofobia (ou, de modo ampliado, contra a islamofobia e o ataque genocida a diversos grupos humanos), Angela Davis define o individualismo capitalista como um inimigo a ser neutralizado. A ideia-força é de que um único indivíduo discriminado representa a discriminação de todo o coletivo humano.
Assim, são irmãs gêmeas a execução brasileira de Marielle Franco, a morte do símbolo feminino anti-apartheid Winnie Mandela (aos 81 anos, em 2 de abril) e a vitalidade resistente de Angela Davis e das muitas angelas-winnies-marielles que vêm por aí.
registrado em: Angela Davis Feminismo Racismo

domingo, 15 de abril de 2018

Falece Fundadora do Teatro Solano Trindade

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Dançarina, professora, escritora, ativista da cultura negra, rainha do maracatu, artista plástica, folclorista, coreógrafa, lutadora incansável do teatro e cultura popular afrobrasileira. Essas são algumas das muitas designações de Raquel Trindade, que faleceu na madrugada deste domingo em Embu das Artes, na região metropolitana de São Paulo, aos 81 anos.

https://www.brasildefato.com.br/2018/04/15/raquel-trindade-multiartista-e-matriarca-da-cultura-negra-morre-aos-81/

quarta-feira, 4 de abril de 2018

O Camarada Mabhida

Mabhida nasceu em Thornville, Natal, o quarto dos cinco filhos da família camponesa que mais tarde foi forçada a sair da terra. Mabhida foi atraído para o sindicalismo pelo falecido Harry Gwala , então um fervoroso sindicalista e membro do Partido Comunista Sul-Africano. Mabhida também se juntou ao Partido Comunista em 1942. Depois de muitos sindicalistas terem sido banidos em 1952-1953, seus colegas do recém-ressuscitado partido clandestino instaram a Mabhida a empreender um trabalho sindical em tempo integral. Na década seguinte, ele organizou dezenas de trabalhadores em Natal. Ele trabalhava para a União Sul-Africana de Caminhos de Ferro e Portos e recebia 25 libras por mês - coletados de simpatizantes políticos, já que o sindicato tinha pouco dinheiro. Ele foi um participante central no desenvolvimento do Congresso Sul-Africano de Sindicatos (SACTU) e foi eleito vice-presidente em seu primeiro congresso em 1955. Ele também atuou como secretário da filial do ANC em Pietermaritzburg em meados do ano. 1950, e teve uma estreita relação de trabalho com o chefe Albert Luthuli . Mabhida tornou-se membro do Comitê Executivo Nacional do ANC por volta de 1956, e em 1958-1959 foi presidente em exercício do ANC de Natal.
Uma semana após a declaração do estado de emergência de 1960, Mabhida foi enviada ao exterior pela SACTU para representar a organização internacionalmente. Nos três anos seguintes, ele organizou atividades de solidariedade internacional em Praga com a Federação Mundial de Sindicatos e com as federações sindicais africanas em desenvolvimento. Em 1963, após sua reeleição para o NEC na conferência Lobatse do ANC, em outubro de 1962, Oliver Tambo pediu a ele que se dedicasse ao desenvolvimento do braço armado do ANC, Umkhonto we Sizwe MK ). Mabhida então passou por treinamento militar; como comissário de MK, tornou-se o principal instrutor político de novos recrutas militares e, mais tarde, serviu como comandante do MK. A repetida reeleição de Mabhida ao NEC, sua nomeação para o Conselho Revolucionário em sua criação em 1969 e mais tarde para o Conselho Político-Militar que o substituiu, refletiu sua popularidade entre os membros do CNA.
Depois de Morogoro em 1969, ele foi fundamental na criação do Departamento Nacional de Inteligência e Segurança do ANC. Ele foi eleito Secretário Geral do Partido Comunista em novembro de 1979, substituindo Moses Kotane, que havia morrido no ano anterior. Nos anos 80, Mabhida continuou o seu trabalho com planeamento político e logístico para o MK, baseado em vários momentos no Lesoto, Moçambique e Suazilândia . Em 1985, durante uma missão a Havana , Mabhida sofreu um derrame e, após um ano de doença, morreu de ataque cardíaco em Maputo e foi enterrado em Março de 1986.

quinta-feira, 29 de março de 2018

Contra o Racismo e a Violência

O Coletivo Negro Minervino de Oliveira, saúda o 21 de Março, Dia Internacional de Luta Contra a Discriminação Racial. Aproveitamos para frisar que, mais do que nunca, devemos nos manter atentos à conjuntura de nosso país, unidos e combativos frente aos ataques à nossa classe.Esta data de luta, instituída em memória das vítimas da violência policial, praticada pelo governo da África do Sul, no período histórico em que o Apartheid estava em vigência, traz consigo a história de luta da população de Shaperville. A Lei do Passe, norma que obrigava os negros a portarem um cartão que indicava os locais onde era permitida sua circulação, caracterizava uma das várias exigência estabelecidas por este regime de segregação racial, que existiu neste país entre 1948 a 1994. A manifestação de 21 de Março de 1960 contou com mais de 20.000 pessoas, que apesar de pacífica sofreu com a repressão policial, onde abriram fogo sobre a multidão desarmada, deixando 69 mortos e 186 feridos.
https://www.facebook.com/groups/853940737969111/

quarta-feira, 21 de março de 2018

Coletivo Minervino de Oliveira-Sauda o 21 de Março-Dia Internacional de Lutas contra a Discriminação Racial

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O Coletivo Negro Minervino de Oliveira, saúda o 21 de Março, Dia Internacional de Luta Contra a Discriminação Racial. Aproveitamos para frisar que, mais do que nunca, devemos nos manter atentos à conjuntura de nosso país, unidos e combativos frente aos ataques à nossa classe.
Esta data de luta, instituída em memória das vítimas da violência policial, praticada pelo governo da África do Sul, no período histórico em que o Apartheid estava em vigência, traz consigo a história de luta da população de Shaperville. A Lei do Passe, norma que obrigava os negros a portarem um cartão que indicava os locais onde era permitida sua circulação, caracterizava uma das várias exigência estabelecidas por este regime de segregação racial, que existiu neste país entre 1948 a 1994. A manifestação de 21 de Março de 1960 contou com mais de 20.000 pessoas, que apesar de pacífica sofreu com a repressão policial, onde abriram fogo sobre a multidão desarmada, deixando 69 mortos e 186 feridos.
Ano a ano acompanhamos casos de massacre e repressão sobre a população não-branca pelo mundo, vitimadas pela violência organizada e patrocinada pela Burguesia, que constrói discursos legitimadores para suas variadas táticas de subjugação da classe trabalhadora. No Brasil, a cada nova pesquisa nos deparamos com o aumento na taxa de assassinatos e encarceramento da juventude pobre e negra, como no estudo lançado pelo Ipea e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, que mostra jovens negros como as principais vítimas de violência no país e que mais de 318 mil jovens foram assassinados no Brasil entre 2005 e 2015. O índice de mortalidade de mulheres negras entre 2005 e 2015, subiu em 22%, ainda de acordo com essas informações, os negros possuem chances 23,5% maiores de serem assassinados em relação aos não negros no Brasil.
O Governo Temer, argumentando sua preocupação com a segurança pública no estado do Rio de Janeiro, tendo como cúmplice o governo estadual, arquitetou a intervenção militar que está em andamento. Apesar do imenso debate que vemos através da mídia, nas ruas e locais de trabalho, o fracasso desta medida é certo, pois a mudança efetiva deste quadro está vinculada ao  fim do que origina este fenômeno, que é a desigualdade social. Nós do Coletivo Negro Minervino de Oliveira nos posicionamos totalmente contra essa intervenção! O Rio de Janeiro, desde 2013, com a Copa das Confederações, passando pela Copa do Mundo, em 2014, e, culminando com os Jogos Olímpicos, em 2016, vive sob permanentes intervenções militares, as quais resultaram isto sim, em confrontos constantes dentro de comunidades onde em sua maioria residem pobres e negros, com um trágico saldo de mortos e feridos.
Dentro desse contexto, de agravamento das tensões políticas no país, de uma ofensiva de retiradas de direitos e aumento da violência, Marielle Franco e Anderson Gomes foram brutalmente assassinados, na quarta-feira passada (14/03). Marielle, militante do PSOL, sendo a 5ª vereadora mais votada no Rio de Janeiro, desenvolvia sua militância tendo como foco os Direitos Humanos, crítica à atuação abusiva da Polícia Militar e naquela mesma data estava em atividade política debatendo sobre democracia e feminismo negro. Dessa grave situação, também, fazem parte outras ações deste Estado burguês que atua fortemente na  criminalização dos movimentos sociais e eliminação física de lideranças populares, como foi este caso e de tantos outros ao longo de nossa história. Tiros da opressão, os mesmos que caem sobre as favelas e comunidades, onde reside a classe trabalhadora, não apagarão nossa luta!
O Coletivo Negro Minervino de Oliveira se posiciona publicamente contra esse cenário de terror, violência e destruição dos direitos políticos e das liberdades democráticas duramente conquistadas durante a luta contra a ditadura de 1964-1985. Nos solidarizamos nesse momento de dor de familiares e amigos, e conclamamos a todos para fortalecer uma unidade combativa e organizada na luta para derrotar esses ataques patrocinados pelas forças conservadoras deste país.

sábado, 17 de março de 2018

Nossa Resposta é a luta - PCB



Milhares de pessoas saíram às ruas para expressar luto e revolta pelo assassinato da militante e vereadora Marielle Franco (PSOL) e do motorista Anderson Pedro Gomes. Os atos ocorreram em todo o país nesta quinta-feira (15).
https://pcb.org.br/portal2/19079/nossa-resposta-e-a-luta

quinta-feira, 8 de março de 2018

Caminhos da História - por Muniz Ferreira


O quinto vídeo da série Caminhos da História é com o professor Muniz Gonçalves Ferreira, doutor em História Econômica pela Universidade de São Paulo (USP) e professor da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ). Na entrevista, dividida em três partes, Muniz Ferreira explica como surgiu seu interesse pela História (parte 1), fala da importância das Relações Internacionais nas obras de Marx e Engels (parte 2), e faz considerações sobre as formas mais adequadas de se escrever e ensinar História (parte 3).

sábado, 24 de fevereiro de 2018

O PCB é contra a intervenção militar no Rio de Janeiro

O PCB/RJ se posiciona veementemente contra a intervenção militar no Rio de Janeiro, por esta ser mais um ataque à classe trabalhadora e ao povo brasileiro em geral.
Essa perigosa medida política do governo golpista de Michel Temer se insere no contexto de seu crescente isolamento político do Palácio do Planalto.
O sucateamento geral da segurança pública em nosso estado, assim como dos transportes, da saúde e da educação faz parte do projeto político de governos totalmente desmoralizados, como são os de Pezão e de Crivella.
O Rio de Janeiro, desde 2013, com a Copa das Confederações, passando pela Copa do Mundo, em 2014, e, culminando com os Jogos Olímpicos, em 2016, vive sob permanentes intervenções militares, as quais resultaram, isto sim, em confrontos dentro de comunidades onde residem pobres e negros, em sua esmagadora maioria, com um trágico saldo negativo de mortos e feridos.
A motivação da presente intervenção militar é eminentemente política, insuflada pela mídia empresarial, capitaneada pelas Organizações Globo, agora já com o auxílio luxuoso da Firjan. Trata-se de proteger o patrimônio dos mais ricos e neutralizar qualquer ação de protesto dos mais atingidos pela violência urbana, isto é, as favelas e bairros mais pobres, na Zona Norte e Oeste.
Com a intervenção militar no Rio de Janeiro, o governo usurpador de Temer pretende esconder o fracasso que é a tentativa de enfiar goela abaixo do povo a pretendida Reforma da Previdência. O Rio de Janeiro, como vitrine nacional, serve de laboratório para as aventuras das viúvas da Ditadura Militar.
Assim, cabe ao povo do Rio de Janeiro tomar em suas mãos a decisão de como deve ser governado nosso estado, construindo a GREVE GERAL rumo ao Poder Popular, e afastando, no seu dia a dia, os arautos do atraso e da barbárie.
Partido Comunista Brasileiro – PCB/RJ

sexta-feira, 16 de fevereiro de 2018

Revolução-Racismo-Pan-Africanismo

Não existe revolução sem combate ao racismo, segundo professor pan-africanista

Pan-africanismo tem como objetivo a emancipação das populações negras e é importante no Brasil e no mundo, diz Musumali

Brasil de Fato | São Paulo (SP)
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Em sua passagem pelo Brasil, o economista Cosmas Musumali, secretário geral do Partido Socialista da Zâmbia, criticou movimentos de esquerda que, ao longo dos anos, pensaram uma revolução sem tratar o tema do racismo: "Não dá para fazer nenhuma luta esperar. Todas as lutas têm que ter espaço para serem feitas aqui e agora. Sabemos que, dentro da luta de classes, as questões sobre raça e gênero têm que ser incorporadas."Musumali conversou com o Brasil de Fato no início de setembro na Escola Nacional Florestan Fernandes (ENFF), em Guararema (SP), onde participou de um seminário sobre o pensamento pan-africano. O pan-africanismo articulou, na segunda metade do século 20, negros das Américas do Norte e Central e do Caribe, em torno dos direitos dos povos negros e da libertação dos territórios colonizados no continente africano. De acordo com o economista, o interesse pelos pan-africanistas tem aumentado entre ativistas e teóricos brasileiros. A publicação do livro “Luta de classes em África”, do ganense Kwame Nkrumah, é um exemplo. Nkrumah, que chegou à presidência da Gana em 1960, é um dos principais expoentes do movimento. A obra dele é de 1970, mas somente em 2016 ganhou uma edição brasileira. Musumali esclarece que o pan-africanismo tem como objetivo a emancipação das populações negras. "A gente tem que entender que o pan-africanismo é ainda uma plataforma necessária para a luta do povo africano e seus descendentes porque, onde quer que estejam, têm que enfrentar situações específicas que outras pessoas não têm", disse. Com relação à aplicação da teoria no Brasil, ele ressalta a importância que ela tem nesse momento de luta contra o golpe parlamentar que destituiu a ex-presidenta Dilma Rousseff. Para ele, é preciso "ter uma posição formulada em conjunto a respeito do que está acontecendo" porque "os descendentes de africanos no Brasil são as pessoas que mais estão perdendo com as reformas que estão sendo aplicadas". O militante trabalhou em diversos países africanos e deu aulas na Universidade da Zâmbia e na Phillips University, nos Estados Unidos. No ano passado, foi candidato à vice-presidência da Zâmbia pelo Rainbow Party, partido socialista zambiano. Hoje, ele se dedica à militância política — que ele define como a construção de bases para um futuro justo e humano para a Zâmbia e a África.
Confira abaixo os principais trechos da entrevista:
Brasil de Fato: O livro de Kwame Nkrumah “Luta de classes em África”, de 1970, teve sua primeira edição brasileira publicada recentemente. Qual é o interesse em revisitar esse autor hoje?
Cosmas Musumali: O capitalismo se encontra em uma crise e, por muito tempo, nós nos satisfizemos com explicações neoliberais. Então, as ideias de pessoas como Nkrumah ressurgem como mais uma abordagem sobre a luta de classes. Essa crise faz com que muitas pessoas estudem para tentar entender o que está errado com o capitalismo.
Além disso, ficou claro para os países africanos que a independência deles foi formal, mas não econômica. É essa busca por respostas mais humanizadas para o continente africano, que fazem com que ideias de pessoas como Nkrumah se tornem mais interessantes.
Por um longo tempo, Nkrumah foi considerado um pan-africanista que não acreditava muito no socialismo africano. Mas isso não é verdade porque, depois que foi afastado do poder [Nkrumah foi presidente de Gana entre 1960 e, em 1966, sofreu um golpe de Estado], ele estudou e escreveu muito sobre o que é o socialismo. Seu socialismo era baseado na luta de classes. É por isso que hoje ele se tornou mais interessante.
Como podemos definir o pan-africanismo hoje?
O pan-africanismo sempre foi sobre a emancipação dos povos africanos e seus descendentes. Isso não mudou até hoje. Desde 1760, o espírito do pan-africanismo tem existido nos descendentes dos africanos. Nesse período, seus expoentes acreditavam na religião como forma de emancipação.
Em meados de 1890, o movimento se tornou mais próximo das reivindicações dos direitos civis. Mas, desde 1945, o pan-africanismo trata sobre direitos políticos. Em 1960, se assumiu contra o neocolonialismo e a opressão dos povos africanos, onde quer que se encontrem.
O conteúdo pode ter mudado, mas o objetivo básico, que é a emancipação, nunca mudou. No futuro, o pan-africanismo também tratará sobre emancipação, além de outras dimensões mais amplas, como política racial, meio ambiente, gênero e a luta contra as estruturas patriarcais.
A gente tem que entender que o pan-africanismo é uma plataforma ainda necessária hoje para a luta do povo africano e seus descendentes porque, onde quer que estejam, eles têm que enfrentar situações específicas que outras pessoas não têm.
Vale lembrar que a exploração e a desigualdade não são exclusivas aos africanos e descendentes, então, trabalhar junto com outros povos é importante. Lutar, por exemplo, pelo feminismo, contra o sexismo ou pelos direitos dos povos indígenas se torna um dever para o pan-africanismo.
Qual foi a contribuição do pensamento marxista para o pan-africanismo?
Desde o início, os marxistas se envolveram com o pan-africanismo. A partir daí, foi possível pensar que a luta de classes não nega o racismo, mas o apresenta como parte dela.
Ao longo do tempo, marxistas também cometeram erros. Alguns deles negligenciaram o racismo. A ideia de alguns marxistas era fazer a revolução primeiro para depois tratar do racismo, uma argumentação muito simplista e barata.
Não dá para fazer nenhuma luta esperar, todas as lutas têm que ter espaço para serem feitas aqui e agora. Sabemos que, dentro da luta de classes, as questões sobre raça e gênero têm que ser incorporadas. É muito difícil separar o marxismo do pan-africanismo. Se forem separados, o marxismo vira mecânico e o pan-africanismo fica reduzido.
No último ano, após o golpe de Estado no Brasil, partidos políticos e movimentos sociais têm procurado criar uma unidade no país. Como o pensamento pan-africanista pode nos ajudar nesse processo?
Meu entendimento é que as tendências fascistas estão sempre agindo no campo cultural e econômico. Mas não têm hegemonia. Trabalhar juntos contra um governo como esse que vocês têm hoje no Brasil é urgente. A gente não pode ter o luxo de ficar fragmentado.
Os pan-africanistas no Brasil devem ter uma posição formulada em conjunto a respeito do que está acontecendo. Os descendentes de africanos no Brasil são as pessoas que mais estão perdendo com as reformas que estão sendo aplicadas, então, é preciso lutar ainda mais e trabalhar ao lado de outras forças da esquerda.
O pan-africanismo não somente é importante no Brasil, mas também no mundo inteiro. Então, os que estão fora do país têm o dever de ficar juntos com os daqui. Do mesmo jeito que a gente falou que a vida dos negros importam nos EUA [referência ao movimento Black Lives Matter] há alguns anos, teríamos que estar falando hoje: ‘não destruam as vidas no Brasil e também o Estado de bem-estar que existia aqui’. Essa teria que ser a demanda de todos os africanos, independente de onde estiverem.
Alguns dados projetam que a população africana vai crescer muito nos próximos anos, enquanto a europeia vai diminuir. Qual o impacto disso para o mundo?
Esse crescimento cria uma cara diferente para o mundo. Em 100 anos vamos ver mais peles e rostos africanos. Serão a maioria, mas ainda sem poder econômico e político. Temos que ter em conta que o crescimento da população vai ser liderado pela África — o continente mais pobre do mundo. Então, os impactos têm que planejados para que a maior parte da população do mundo não continue marginalizada como é hoje.
A boa notícia é que essa população jovem negra terá mais acesso à educação e vai viajar muito. O avanço das tecnologias fará com que fiquem em contato mais facilmente. A maior questão é: quais valores essa população vai carregar no mundo? A ideia é que carreguem valores de igualdade, honestidade e solidariedade. Valores que vão ajudar a mudar a sociedade do futuro. Se a gente pensa em pan-africanismo, nós teremos que trabalhar em cima desses valores para construir um mundo melhor. Coincidentemente, esses são os mesmos valores socialistas. 
Edição: Vanessa Martina Silva